A história dos Diabos de Amarante remonta ao século XIX e está profundamente ligada à cultura popular, ao teatro de rua e ao espírito irreverente da cidade.
Origem: Teatro Popular e Satírico
Os Diabos de Amarante são figuras tradicionais associadas às Festas de São Gonçalo, padroeiro da cidade.
Eram representações teatrais populares, com duas figuras de madeira – o Diabo e a Diaba – que surgiam em cortejos e desfiles burlescos, acompanhados de sátira social e crítica mordaz ao poder político, à Igreja e aos costumes.
Estes cortejos tinham o propósito de “esconjurar os males”, ridicularizando os comportamentos desviantes e defendendo a moralidade à sua maneira – com ironia e muito humor.
As figuras originais dos Diabos foram, em determinado momento, vendidas a um colecionador inglês, o que simbolizou um “exílio” cultural da tradição.
A sua ausência marcou gerações, mas a memória manteve-se viva na oralidade local e em alguns registos fotográficos.
Em eventos recentes (como o cortejo de 2024), foram criadas réplicas dos diabos, que regressaram simbolicamente à cidade, celebrando o renascimento dessa tradição.
Ressurgimento e Atualidade
A festa dos Diabos tem sido recuperada nos últimos anos por associações locais, comerciantes e grupos culturais como o T’Amaranto (teatro amador).
A Rua Cândido dos Reis tornou-se um palco para esta celebração, onde o cortejo, o ritual de esconjuro e a música ao vivo se juntam num ambiente festivo e provocador.
Símbolos e Significados
O Diabo e a Diaba representam o lado rebelde da cultura popular: irreverência, crítica, alegria e libertação.
A festa simboliza um momento de “carnaval fora de época”, onde as normas sociais são momentaneamente suspensas e os excessos são permitidos.
Mantém um vínculo com o passado, mas com um olhar contemporâneo, reforçando a identidade cultural de Amarante.